Noção de (in)visibilidade

19 outubro 2011 /


Pra ouvir: Astair - Matt Costa


Não é difícil ver que mesmo aqui olhando seus olhos e rindo dos risos que escorrem fáceis por essa boca carnuda de lábios ressecados do calor do dias, que, de algum modo pareço invisível. Como se esse momento e esse riso não fossem dignos de pensar antes de dormir.

Porque, enfim, não é em mim que ela pensa antes de dormir. 

E mesmo que cruze os braços dela para trás a fim de fazê-la gesticular menos enquanto fala (embora, e na verdade, o faça mais pelo modo torto com que aquilo me pareça um abraço invertido) ela não parece perceber nenhuma das minhas intenções.

Então me viro nos travesseiros dela, fingindo que perdi o interesse enquanto busco o cheiro dela em algo macio que não é ela, que está ali tão próxima, mas tão inalcançável que me pergunto se posso mesmo alcançá-la esticando a mão. Sinceramente duvido se tocá-la seja mesmo alcançá-la.

Observo então o azul clarinho dos lençóis enquanto tento adivinhar em quais lembranças ela se perdeu agora ao mesmo tempo em que pergunto a mim porque aquilo tudo é tão importante, porque o simples desfoque dos olhares dela me parece um alarme tão forte. Então, lembro que é porque tudo nela se tornou importante para mim.

E então, eu adormeço procurando uma maneira de fazer os olhos dela escorem do livro que agora ela decidiu ler e venham até os meus pensamentos que dizem que é hora, minha menina, de dá atenção a quem se importa, que lembrança passada só reforça a armadura e que lá fora existe um jardim lindo e que se você quiser, eu posso segurar a tua mão e, acredite em mim, não pretendo soltá-la. 

Só que ela não vai notar nada disso, enquanto eu faço de cada uma dessas lembranças uma nova dor. 


Você está lá e eu ainda estou aqui, eu juro estou tão confuso.
As suas atitudes estão me fazendo sentir que eu sou o que vai perder. 

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