Lágrimas de primavera

Um texto de junho que achei perdido no bloco de notas do celular

Eu chorei no Hyde Park. Quem via ao longe podia imaginar que era apenas o vento gelado londrino que fazia meus olhos lacrimejarem e mesmo que me custe admitir: chorei. Chorei com a garganta, como costumo fazer.

E os esquilos saltitantes, a revoada de pombos, os meninos jogando futebol, o grupo de adolescentes, o rapaz de fones a minha frente, a garota que ri ao pegar o frisbe arremedado pelo pai, o corvo que canta ao meu lado, o homem de meia idade fumando, a corredora, o cachorro, as crianças rindo no carrocel, os aviões que passam a todo momento, nenhum deles precisa me consolar.

As lágrimas que prendo na minha garganta agora são de pura felicidade.

Porque se eu esticar a mão agora pego na grama que um dia pareceu meu sonho mais distante. Porque a criança que via filmes, que lia Harry Potter e Sherlock Holmes, que ouvia a mãe cantar Beatles na cozinha, que  gostava de frutos do bosque e que sempre sonhou estar onde estou, podia tocar o seu sonho com os dedos agora. Mesmo que com uns anos de atraso.

Já conheço seis países agora e antes de voltar pro Brasil ainda terei mais um. Se você perguntasse a um ano trás onde eu queria estar eu diria na Europa viajando. É exatamente onde estou agora e é difícil controlar as lágrimas.

Disseram-me uma vez que era demasiado sonhadora. Acho que essa é minha maior qualidade. Sonhos são o primeiro passo para realizá-los e minha lista está ficando cada vez menor.

Engoli o choro e deixei escapar um sorriso enquanto o esquilo ao meu lado observava curioso o meu almoço.

O céu está nublado, mas quem se importa? Não é no céu que moram os nossos sonhos. Nossos sonhos moram em nossos mãos. Não deixe os seus perdidos entre rugas do tempo. Há uma criança em cada um pronta para realizá-los. Não deixe o adulto em você matar seus sonhos.

A minha, neste preciso momento, chora lágrimas de primavera. E eu também.