Querido Victor,
Lembra-se dos peixes grandes e dos aquários? Estou cada vez mais certa disto do lado de cá do oceano, por onde compartilhamos o mesmo amor. Hoje, enquanto te escrevo, o termómetro não mede o céu. O sol não nós alcança e é a primeira vez que passo o dia inteiro em casa, sem ter nada para fazer além de desenhar-te estas palavras. Coimbra eis frenética, como me alertou. Coimbra é uma ruiva linda, louca e apaixonante. As melhores, como também sabes.
Mas, não quero falar do tempo, nem de ruivas.
Quero falar de peixes e aquários.
Não sei se já te contei, mas sou de uma cidade minúscula no interior de um estado esquecido. A vida inteira me senti um peixe grande demais jogado sem méritos num aquário de peixes pequenos. Não que estou dizendo que sou melhor por ser maior que os outros peixes, apenas que nunca me encaixei. Esse sentimento sempre morou em mim.
Uns anos depois mudei-me de cidade, de aquário. Esse aquário era maior e, logo, melhor. Os peixes eram um pouco maiores que os do primeiro aquário, mas as vezes eu conseguia mexer minhas nadadeiras, deslizar pelo água sem precisar me encolher. Mas, nunca deixei de querer mais.
Então, mudei de novo de aquário. Este mesmo áquario que dividimos. Quatro anos pra mim, muitos para ti. Eu, peixe de águas frias, não me encaixei logo nas águas quentes dai. A diferença é que nesse aquário os peixes eram do mesmo tamanho que eu. Todos nós apertados nesse aquário grande, cheio de peixes também grandes. Engraçado como tudo parece menor visto dai, não é?
Mudei-me novamente, como sabes. Para este aquário de cá, por onde tu também já morou. Eu sabia que ia gostar daqui, mas não que seria assim. Esse aquário de cá é gigantesco e os peixes grandes, pequenos, médios, velhos, novos, todos parecem nadar livremente. Eu nado livremente aqui também. Cresço, me estico, paro de me encolher para encaixar. A água é mais doce e fria, a comida e a bebida são fartas, as reuniões com os outros peixes não me obrigam a me diminuir para encaixar, mas espandir para mostrar. É, sem sombra de dúvidas, meu aquário preferido.
E, como deves saber, isso me assombra terrivelmente.
Não o aquário em si, mas porque sei que não ficarei aqui tanto quanto queria. Assusto-me ao pensar que isto aqui logo não será mais meu. Que as canções, as bebidas, os murros que falam, as pessoas, logo nada disso será mais meu.
Mas, como costuma ser, o medo também me inspira. Nem fui e decididamente quero voltar. Assim como você. Escrevi tudo isso para ti dizer: relaxa, meu grande peixe tão querido, que este aquário há de ser nosso por muitos e muitos anos por vir. Faz planos e não fraquejas. Como li num dos murros, esta cidade inteira está vazia e alguém escreveu teu nome por toda parte. Coimbra te chama. Eu escuto nos murros, escuto no bigorna, escuto no silêncio. Ela me chama também. Nos resta apenas atender a este pedido, não acha?
Força, Victor.
Este mundo inteiro há de ser teu.
Com amor,
Ilzy.
Novo projeto aqui do blog! Nunca escrevi uma carta e enviei na vida. Então, decidi experimentar fazer isso aqui no blog. Uma vez por mês escreverei cartas que serão publicadas aqui no blog sobre o que aprendi e vivi em Portugal nesses seis meses que ficarei por aqui e enviarei via Correios para o Brasil, junto com um presentinho aqui de Coimbra ou de outros lugares do mundo que quero conhecer. Quem estiver interessado em uma por favor comente amifestando interesse e quem sabe um tema. Poderemos trocar cartas até quando eu voltar para o Brasil. Espero que gostem!
Que carta linda Ilzy, já estou me apaixonando por Coimbra através do seus textos e fotos. Amei demais esse novo projeto <3
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