Leia Hoje: Passarinho - Crystal Chan

FICHA TÉCNICA: 

TÍTULO: Passarinho  | AUTORA: Crystal Chan | EDITORA: Intrínseca | PÁGINAS: 224

O que você quer ser quando crescer?

Algumas crianças querem ser dançarinos, outras querem ser médicos e alguns prefeririam ser professores.

A Jóia quer ser geóloga.

Apesar de só ter 12 anos, ela já estudou bastante sobre a Terra e é, inclusive, amiga de um penhasco. Mas, isso é segredo, OK? O último lugar onde ela poderia ir é aquele penhasco.

Foi lá que há 12 anos o irmão da Jóia tentou voar.

O nome dele era John, mas todo mundo o chamava de Passarinho – um apelido dado pelo avô. Como vocês devem imaginar, o vôo de Passarinho não deu muito certo e ele acabou morrendo com apenas 5 anos. Naquele mesmo dia, o avô também parou de falar, a Jóia nasceu e a família deles nunca mais foi a mesma.

Em meio à culpa e o silêncio constante que fizeram morada em sua casa, Jóia encontrou abrigo no mesmo penhasco onde a maldição da sua família começou. Ela se deu de presente uma pedra para cada aniversário e procurava enterrar seixos que representassem suas dúvidas e frustrações bem fundas para que sumissem na terra.

O segredo dela foi descoberto por ninguém menos que um garoto chamado John. Apesar o susto inicial, Jóia e John tornam-se grandes amigos e compartilham seus sonhos, frustrações e vontades – ele quer ser astronauta e fugir da família que o adotou e ela queria saber porque não pode ter a alegria que outrora foi constante em sua família. 

O problema é que a amizade dos dois pode despertar a fúria do mesmo duppy – espíritos do mal da cultura jamaicana – que convenceu Passarinho a pular do penhasco. Além disso, desperta o pior e o melhor do pai, mãe e especialmente do avô de Jóia.

EXPERIÊNCIA DE LEITURA

Sabe quando o livro é tão bom, mas tão fininho que você fica se policiando pra ler mais divagar com medo dele acabar? Essa era minha principal sensação ao ler Passarinho. 

Apesar de tratar de um tema tão complicado como o luto, o livro consegue ser leve e denso ao mesmo tempo, é bastante espirituoso e transborda o tema principal, tratando também sobre amizade, culpa e o poder de uma vida sobre outras. 

Jóia é uma personagem inteligente e cativante. Forte, mas cansada. Sua paixão pela Terra e pela natureza é inspiradora e dá aquele gostinho de infância que os nossos sonhos e brincadeiras despertavam.

Em essência, o livro trata sobre o nascimento da coragem mostrada da personagem que apesar de tão jovem, parece ser a única que realmente entende como a morte do irmão influenciou toda a dinâmica da família e como isso acabou matando a todos eles, embora apenas um tenha sido enterrado. 

Apesar de ficar cativada pela Jóia, preciso confessar que o motivo pelo qual quis tanto ler esse livro mora em outro personagem: o vovô. A primeira frase do livro despertou totalmente minha curiosidade. Ele é um personagem tão bem construído que você consegue odiá-lo numa página, amá-lo na outra e chorar a dor dele em todas as outras. 

John é cheio de surpresas, divertido, sonhador. É sem dúvidas a ruptura que a família de Jóia precisava para entender melhor o que estavam fazendo com as próprias vidas e com as dos outros enquanto só sabiam sentir falta de Passarinho. E, ainda, é o canalizador de entendimentos na própria família. 

Crystal Chan inaugura sua carreira literária com maestria. Uma voz literária poética e verdadeira, construindo muito bem o enredo e os personagens. Além disso, nos ensina sobre a cultura Jamaicana, geologia, astronomia e especialmente sobre perdão – tanto ao outro como a si mesmo. 

A edição é maravilhosa, com leitura fácil, tradução OK e diagramação de fácil compreensão. O destaque vai todo para a capa: pouca vezes vi um trabalho gráfico tão bonito e tão certeiro quanto ao enredo do livro. Os elementos da capa resumem a história. É, sem dúvidas, uma das mais bonitas na minha estante.

Recomendo a leitura para todos que gostam de ler algo diferente e inspirador.