Quando o passado faz uma visita

15 janeiro 2012 /


Pra ouvir: My iron lung - Radiohead

O vento afagou a copa das árvores que bruxuleavam pela rua devido a iluminação fraca vinda de um daqueles postes quaisquer que por ali prostravam-se. Tentou levar tudo aquilo que o outono lhe permitia, mas conseguiu apenas algumas folhas secas e suspiros.

Dentro da casa dos McLoren, alguns jovens-quase-adultos reuniam-se e circulavam entre os móveis e a bela decoração das paredes. Em suas mãos haviam bebidas coloridas ou tradicionais servidas em copos de vidro fino que lembravam os de Nutella, embora tenhamos certeza de que não o eram, afinal, aquela era a casa dos McLoren. Na piscina e seus arredores, por onde a festa se estendia, caíam a decoração e iluminação suave, pra combinar com o Bach tocado em alguns lugar da casa e disseminado por todo o resto.

Reuniam-se ali os formandos da penúltima turma do tradicional Holly High School. A anfitriã,  Karen McLoren, vestia um deslumbrante vestido prateado com brilhos discretos e saltos delicados. Todos - ou uma grande parte, pelo menos - reuniam-se ao seu redor para ouvir-lhe falar sobre a última viagem à Paris, os planos para a universidade e todos os aspectos da vida fútil que levava que tanto interessavam a todos aqueles seres igualmente fúteis, porém, não tão sortudos quanto ela.

Enquanto, do outro lado da casa, sentada numa poltrona de couro caro próximo a porta que dava acesso a ala externa da casa, uma esguia menina de brancura acentuada pela iluminação fraca daquela parte, cruzava as pernas despreocupadamente e balançava suavemente o pé ao ar, tentando disfarçar a dor dos saltos e cuidando para que o vestido preto e curto não lhe mostrasse algo que ela não queria.

Seus pensamentos variavam entre partir agora de toda aquela chatice ou esperar mais um pouco por educação, por respeito aos pais da anfitriã (que eram os patrões do seu pai). Se bem que ela não tinha nenhum motivo para ser educada, além do fato de só ter estudado na Holly por uma bolsa conseguida pelos McLoren. Veja bem, não que ela não fosse grata pela educação que teve, mas é que inferno sempre fora a melhor palavra pra descrever aquele recinto.

Em todo caso, ela pegou entre os dedos finos uma das mechas do longo cabelo negro e ondulado que lhe caia em cascata até o meio das costas nuas pelo vestido, fazendo cócegas suave, e tratou de observar ao redor sem qualquer afeto ou interesse. Os olhos dourados que lhe eram os visores pousaram, então, na única figura que lhe causa mais repulsa que Karen: Giuseppe Bianucci III.

Ele estava na outra margem da sala, encostado discretamente próximo a uma bancada cheia de fotografias de diversos tamanhos dos McLoren em partes do mundo e de Karen em suas mais diferentes fases da vida, mas sempre esboçando aquele rosto esnobe que era sua marca registrada, além dos fios lisos e louros e os olhos verdes vulgares. Aliás, nesse aspecto ambos se pareciam: os olhos de Giuseppe eram tão vulgares e esnobes quanto os de Karen, porém, num tom escuro de floresta densa e com um brilho meio opaco de desinteresse.

Ah, Lisbeth certamente o odiava.

Por todos os aspectos que o leitor puder imaginar, mas especialmente pelo fato de que aquele casal era o exemplar perfeito dos estudantes da Holly: perfeitos com seus narizes altos, seu bolso cheio de cartões tão sem limite quanto eles mesmos e tão mimados quanto se poderia ser. Uma escola para os insuportáveis da classe mais alta da escola esnobar os bolsistas das classes mais baixas.

Não que Lisbeth fosse pobre, longe disso. Ela vivia numa casa confortável num bairro relativamente bem conceituado, cheio de jardins verdes, cercas brancas e velhinhos simpáticos balançando em suas cadeiras de madeira na varanda, falando seus eternos "de pensar que te peguei no colo, menina!" ou "você deveria entrar e comer algum dos biscoitos que fiz, parece tão magra!".

O fato que é que quando você está acostumado com as pessoas que não precisam humilhar os outros para sentirem-se bem consigo e depois passa a lidar com eles forçadamente, seu coração, alma e sentidos endurecem bastante. E Lisbeth passou da garota doce que costumava ser para uma versão sarcástica, cínica e apática, além do brilho dourado do seu olhar, que foi substituído por um maldoso que na verdade era só auto-proteção. Ela vestia aquela armadura por longos anos e vestiu novamente para aquela ocasião.

E o fez bem, porque os olhos verdes de Giuseppe vasculharam a sala com sua opacidade e acabaram por encontrá-la, fixando-se nela com um tanto de interesse (não do tipo bom de interesse que ele pudesse ter, mas aquele de um menino fútil que encontra um brinquedo alheio e tem a intenção de quebrá-lo). Ele girou algumas vezes o copo de uísque que carregava consigo, bebeu metade da dose e riu para si mesmo.

Lissy suspirou mais pesadamente e recordou tristonha a alegria do dia da formatura, no qual livrou-se de todos aqueles vermes, como ela pode ter esquecido as malditas reuniões de turma? Aliás, se ela já estava arrependida antes de ter vindo, esse sentimento multiplicou-se violentamente quando viu a figura de Giuseppe cortando a sala com os olhos fixos nos dela e o sorriso vulgar nos lábios.

Não demorou muito para que ele a alcançasse e logo que o fez, tratou de fazer jus a figura que era. – Lissy, minha querida, que surpresa tê-la por aqui... - disse naquele inglês carregado pelo sotaque italiano de sua descendência que seria profundamente charmoso, combinado com aquele tom rouco que era a voz dele e o rosto misterioso que ele tinha e - ela observou rapidamente - o novo corte social dos cabelos cor de cobre. Mas, Lissy sabia que não podia deixar-se encantar pelo charme natural dele: não havia nenhum "querida" de verdade naquela frase.

– É Lisbeth Rowan pra você, Bianucci, e qual a surpresa, afinal? Mesmo que nenhum de vocês realmente sinta-se honrado com isso, também fiz parte da turma... Mas, você deve saber que compartilhamos do mesmo sentimento: não fiz, nem faço qualquer questão de o ser. - disse no tom mais áspero que sua voz suave conseguia ser, olhando-o com as iris douradas banhadas em desprezo, levantando bastante a cabeça para se certificar que mesmo em pé e alto como era, ele entendesse a mensagem.

Giuseppe não se surpreendeu com o tom, nem com as palavras grosseiras. Ele sabia o que o aguardava sempre que resolvia ter uma daquelas conversas com Lisbeth nos últimos anos. Aliás, lhe divertia o modo como ela se defendia fervorosamente de qualquer um da Holly, especialmente dele. Recordou, então, ainda com os olhos cravados nos dela, como ele costumava tratá-la e entendeu perfeitamente porque ela havia tomado tal posição. Ele costumava ser um cretino mesmo quando se tratava dela.

Não que as coisas tivessem mudado muito...

– A mesma mal criada de sempre, bom saber que algumas coisas nunca mudam, Lissy... - ele deu ênfase com o seu sotaque no apelido dela, mostrando que não obedecia ordem que não as dele mesmo. – Mas, me diga, se não tem prazer em estar aqui, porque o faz? - naquele momento ele sorriu com um dos cantos da boca.

Sem perder a compostura que havia montado pra si, Lissy trocou o cruzamento das pernas lentamente enquanto fazia a si a pergunta que ele havia feito. Porque o fez? Porque estava ali, afinal? Lembrou então de algumas horas antes, quando estava atirada no sofá com seus óculos finos e de moletom, estudando farmacologia naquele livro imenso para a prova que teria na segunda, para então seus pais fazerem um verdadeiro drama sobre o descaso dela para com o convite dos McLoren, que tanto lhe ajudaram a conseguir aquela vaga na universidade. E num suspiro, ela subiu ao seu quarto, trocou de roupa e desejou que eles a ignorassem durante toda a noite. Era bem mais confortável assim. Mas, como sabemos, não foi o que conseguiu.

Permitiu-se não responder à pergunta dele, como aquele mesquinho iria entender? Não, certamente não iria. Mas, era tarde porque toda a atenção dele estava com ela. E ele descaradamente observou o corpo dela em toda sua altura, bem como o vestido bonito que ela usava e os saltos estanhos da ankle boot.

Um meio sorriso alcançou a outra parte da boca. Ele que estava acostumado a vê-la dentro das camisetas de bandas estranhas e jeans, além dos coturnos gastos que não lhe saiam dos pés, agora estava satisfeito de ver a mulher bonita que estava escondida ali atrás. Só não conseguia entender o porque de tal satisfação... E sentiu uma sensação estranha dentro de si, aquela que ele costumava sufocar toda vez que a via. Era mais confortável permanecer sem saber exatamente o que era aquela corrente pulsando dentro de si, mas isso não o impedia de continuar ali, provocando a Rowan, só por prazer (mesmo que a corrente aumentasse e a incerteza também).

Um dos garçons passava ali próximo naquele momento e ele o alcançou, colocou seu copo, agora vazio, na bandeja e pegou outra dose para si, além de uma taça de champanhe para Lissy. E falando nela, a moça agora havia levantado-se, e com os saltos ficava só um pouco mais baixa que Giuseppe, puxando discretamente o vestido curto para baixo e arrumando a alça fina da pequena bolsa que levava em seu ombro. Havia decidido que ele estava mesmo certo, embora muito lhe custasse admitir aquilo. Ela não precisava dar-se ao trabalho de continuar ali. Já havia ficado o suficiente.

Giuseppe virou-se novamente com a taça para ela, no momento em que ela arrumava-se para ir. Notou aquela sutil decisão e estendeu a taça à ela. – Bem, vejo que parece que vai partir... Permite-me apenas um brinde, então? - a voz dele soou com o desprezo de sempre, porém havia uma briga dentro de si. Ele queria mesmo que ela fosse embora? Não soube responder... E talvez até soubesse, mas não admitiria.

– As pessoas brindam momentos importantes e o prazer de estarem umas com as outras, Bianucci, nós não compartilhamos nenhum dos dois nesse momento. - disse simplesmente e pois-se a caminhar, procurando o melhor e mais rápido meio de sair dali.

Giuseppe descobriu-se querendo dizer que compartilhava sim de certo prazer em estar ali com ela, mas não podia dizer, porque nem mesmo entendia porque sentia aquilo. Perdeu-se um instante naquela confusão agora instalada em si que sequer percebeu que ela havia encontrado o melhor caminho e colocou-se a galgá-lo.

Quando percebeu, enfim, colocou-se atrás dela sem pensar no porque daquilo e só a alcançou já bem próximo a porta de entrada. Segurou-lhe o pulso antes que ela pudesse sair com a mesma mão que segurava o copo de uísque. A surpresa gelada fez o pulso da menina ficar alarmado e o toque agravou aquilo. Ela virou a cabeça com urgência para saber que estava lhe impedindo a fuga e ficou ainda mais surpresa de vê-lo ali. Ele não cansava de lhe atormentar, era isso? Tantos anos e mesmo assim, o prazer dele não diminuía?

A fúria instalou-se na corrente sanguínea de Lissy, fazendo-a puxar com força o pulso da prisão que ele exercia e olhá-lo com desprezo e descrença. Que diabos ele tinha? Nem mesmo ele saberia responder, porque enquanto lhe segurava o pulso e sentia a pele quente dela contra a sua, aquela incerteza aumentava e, como um monstro ou uma força oculta, lhe dominava.

Lissy não quis esperar para saber por que, atravessou a enorme porta de madeira aberta onde os McLoren estavam ainda recepcionando alguns convidados e agradeceu-lhes o convite, inventando uma desculpa para escapar sem magoá-los. A Sra McLoren aparentava uma versão mais velha de Karen, só que mais doce e gentil e o Sr McLoren era um daqueles homens durões, altos e grisalhos, mas de coração mole, qualquer um podia notar. Eles entenderam o motivo - ou o motivo por trás da desculpa - e lhe beijaram as faces.

Logo, Lissy estava na rua gelada. Puxou as mangas do sobretudo para mais próximo dos pulsos e fez uma concha com as mãos em frente ao nariz. A rua estava deserta àquela hora da noite e a única movimentação era na casa que ela acabara de deixar, porém, embora sozinha e com frio, parecia bem mais acolhedora que a casa quente de minutos antes.

Pois-se a caminhar tranquilamente enquanto prometia para si mesma que nunca mais - veja bem, NUNCA mais - aceitaria outro convite para as porcarias das confraternizações daquela classe e sorriu pela primeira vez naquela noite, satisfeita consigo.

Como a casa dela era um tanto considerável longe dali, Lissy pretendia pegar algum taxi quando alcançasse a avenida. Porém, enquanto caminhava pelas ruas desertas, notou que alguma coisa estava errada com a dupla sombra que se formava na calçada enquanto ela caminhava. A luzes dos postes não provocariam aquele efeito aquela hora da noite, o que levava a supor que...

Lançou um olhar por cima dos ombros e notou com a visão periférica que um homem de sobretudo a estava seguindo. No mesmo instante começou a apressar os passos pensando todo tipo de auto-terror que se costuma pregar a fim de conseguir mais forças para passadas mais rápidas.

Na medida em que os seus passos aumentavam, ela notou pela sombra, os do homem de sobretudo também. De repente uma corrente de adrenalina lhe invadiu e um suor estranho brotou em suas mãos e testa, apesar de todo o frio ao redor. Ela caminhava quase correndo e o homem continuava perto demais...

Até as luzes dos postes começaram a piscar devagar.
E então tudo que restava era a escuridão na rua (quase) deserta.

Lissy piscou os olhos várias vezes sem saber reconhecer qual era a diferença entre o interior das suas pálpebras e a rua. Com o choque do blackout ela havia parado de caminhar. Em compensação, todos os seus sentidos estavam ainda mais aguçados pelo pavor. Em algum lugar em meio aquela escuridão, o homem de sobretudo estava  -ela tremia só de imaginar - lhe procurando.

Com muito custo ela tentou respirar mais baixo e menos ofegante, embora o coração ainda lhe martelasse com força contra o peito e ela pudesse jurar que ele a encontraria só seguindo o som da sua pulsação. Lágrimas começaram a brotar nos seus olhos e ela via menos ainda agora.

Até que uma mão tateou o vazio ao redor e lhe cravou o pulso.

Naquele momento todas as reações da menina se alarmaram ainda mais, porém, ela não encontrou forças em nenhum lugar do corpo para fugir. O desespero somava-se a adrenalina em suas veias agora. Mais lágrimas brotavam e começaram a escorrer negras pelo seu rosto na escuridão. Ela sentiu-se congelar.

Então outra mão tateou próxima ao aperto firme em seu pulso e subiu pelo seu braço até o pescoço. Ela sentiu a respiração do homem cada vez mais próxima. Ele estava de luvas, ela sentiu através do aperto. Parecia que ele havia premeditado tudo. A outra mão dele alcançou seu braço após descer através do pescoço. Além de chorar, ela arfava fortemente enquanto procurava manter qualquer ar no pulmão a fim de gritar por ajuda, sem conseguir saber onde havia deixado a voz, a força, a coragem...

Tudo que pensava era em como o destino havia sido cruel. De todos os modos de se violentar uma pessoa, especialmente uma moça, ela cogitou, as intenções do homem era as piores possíveis, porque agora ela podia sentir o nariz dele farejando seu pescoço, enquanto os lábios dele tocavam suavemente a pele nua dali. Ela sentiu um arrepio de puro terror. Uma das mãos dele também soltou seu pulso ao notar que ela não iria a lugar algo e cravou-se bem na curva ao final de sua coluna, onde o decote do vestido terminava e era coberto pelo sobretudo.

Então o homem começou a beijar-lhe o pescoço fervorosamente enquanto tudo que Lissy pode fazer foi chorar e soluçar e até mesmo arrepender-se de ter saído da casa dos McLoren, pois por piores que os ex-veteranos da Holly fossem, eles ainda não lhe fariam o mal que aquele homem pretendia. E toda aquela situação: a escuridão e sua completa falta de força, era tudo perfeito para ele.

Lissy sentiu que queria desmaiar e quando finalmente ia mesmo fazê-lo, sentiu que o homem a havia parado de beijar-lhe o pescoço e o colo e agora envolvia seus braços ao redor da cintura dela. Ele... Ele a estava... Abraçando?! Era o que parecia, pois ele pousara a cabeça no ombro imóvel de Lissy e ficará ali. 

Ao mesmo tempo em que a energia foi restaurada e um brilho bronze se fez próximo ao pescoço de Lissy. E então o homem demorou um pouco e devagar como se temesse qualquer fuga dela, já que seus braços haviam caído ao lado do seu corpo. Levantou a cabeça e quando seus olhos também levantaram, Lissy reconheceu o verde-floresta dos olhos de Giuseppe.

Continua...
...

Nota da Autora; Olá amores, como estão? A nota é simplesmente para pedir desculpas pela demora de postagens nesse ano que iniciasse com esse post. Tirei umas "micro-férias" do blog pra organizar alguns aspectos da minha vida e da minha literatura, nem tudo está encerrado ainda, mas me sinto plenamente capaz de continuar escrevendo por aqui. Obrigada pelo carinho nos comentários anteriores e coloquem suas teorias sobre o que vai acontecer na continuação ;D 
Beijão, meus lindos. 

P.S. Desculpem o suspense em colocar uma continuação, mas é que é mais divertido escrever assim :)

6 comentários:

  1. Que perfeito,quero muito ler o resto! *__________*

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  2. Vontade de te matar! kkkkkkkkkkkkk.. nossa, ficou perfeito! E interessante o cenário estrangeiro e os nomes ingleses e tal! Adorei a novidade (ou eu não tinha percebido tanta fineza nos outros contos? hmmm...)
    Como sempre, é um prazer "ler você", é ótimo ver seu crescimento, sua literatura se modificando, ficando mesclada e linda linda linda!

    Sua, encantada, fan.
    B.G

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  3. Adorei o texto, perfeito você tem muito talento Ilzy, parabéns! Mas quero muito continuar lendo a história fiquei curiosa*-*

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  4. Aaaaah quero ver a continuação logo. Tô hiper curiosa, apesar de eu já ter desconfiado que era o Giuseppe que a seguia. Muito perfeito Ilzy, ameeeei.

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