Isso é um adeus ou um novo horizonte?

30 junho 2011 /



Ele chegou a minha casa como quem sai sem saber pra onde, mas é guiado pelas pernas pra um lugar seguro. Por instinto, eu senti. Os olhos vermelhos brilharam quando coloquei o meu desentender em seus ombros. Ele não aguentou mais esse peso e desabou no meu pescoço. De repente minha manga estava toda molhada.

Caminhei com ele, naquele abraço estranho e esmagado até o sofá. Fiquei parada escutando seus soluços. Não fazia ideia do que tinha acontecido comigo para deixá-lo entrar e muito menos do que dizer. Fiquei ali, parada e abraçando fraca aquele corpo magro. Sequer acendi a luz da sala.

Então ele se desvencilhou dos meus braços e segurou meu queixo com força, enquanto os olhos negros queimavam meu rosto, mesmo que eu mal pudesse ver. Fiquei vermelha. Quis desviar os olhos, ele segurou então minhas bochechas me forçando a ver os seus olhos vermelhos. Eu não sabia o que doía mais: vê-lo chorar ou vê-lo ali. Acho que simplesmente vê-lo doía o suficiente.

Então ele me beijou. Um daqueles beijos raivosos, daqueles que parecem te devorar. Que mastigam seu sentimento e cospem. As mãos dele passeavam pelas minhas costas enquanto a minha boca passeava na dele e minhas mãos estavam firmemente apoiadas no peito dele para empurrá-lo, mas sem qualquer força pra fazê-lo.

Meu ódio foi dissolvido na saliva dele.

Restou só uma respirar irregular lançada contra a barba mal feita dele e uma vontade de matá-lo (só não sabia se matar de verdade ou de amor). Os lábios dele já nem estavam nos meus e ainda queimavam. Ele cravou os dedos na minha nuca e segurou meu cabelo ali.

- Casa comigo?
- Não
- Me perdoa, pelo menos?
- Não

Continuei com os olhos nos dele, dessa vez. Por coragem, por medo de ele ir embora, por qualquer coisa, eu nunca sei. Só sei que preciso ficar com os olhos nos dele. Então ele se deitou no meu colo e colocou as minhas mãos no seu cabelo. Eu sentia o perfume dele bem forte em todo o meu corpo. Automaticamente tomei a desembaraçar os fios do cabelo dele.

- Eu posso ficar?
- Não
- Eu sei que você ainda me ama...
- Isso não significa que eu queira voltar.
- Significa que vale a pena tentar denovo, só que dessa vez do jeito certo.

...

NOTA DA AUTORA; Quanto tempo eu não deixo uma nota por aqui, não é? 
Bem, essa é só pra pedir desculpas pelos atrasos de texto desse mês. 
Também pra agradecer pelo carinho de vocês nos comentários, pelas visitas e por tudo.
Ah sim, esse é o conto número 51, acreditam?! *-*
E pra dizer que esse texto me parece uma complemento desse aqui. Não me perguntem o porquê.

15 comentários:

  1. Intenso, profundo e sutil ao mesmo tempo. Eu gosto de todos os seus contos, então o que dizer?! Amei!

    ResponderExcluir
  2. Que lindo, Ilzy! Sabe, acho até difícil deixar um comentário aqui, pois são tão difíceis de explicar os meus sentimentos após ler um dos seus contos...
    Mas uma coisa é certa, eles me deixam mais leve, com uma sensação tão gostosa no peito...

    Beijo, linda!

    ResponderExcluir
  3. Lindo. Suas palavras são tão doces.

    ResponderExcluir
  4. Magnifico! Tão somente isto a dizer. Tu está cada dia melhor Ilzy! Palavras tocantes e profundas.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Vc consegue escrever a alma ,o sentimento mais profundo ...dá até pena do casal ..e uma certa esperança do recomeço ...melhor q mtos q já li...

    ResponderExcluir
  6. nossa, que intenso <3
    adoro contos assim, meio raivosos, sinto a emoção na pele, como se eu estivesse encarando aqueles olhos.
    ai ai, e tem umas frases que vou escrever em algum caderno pra não esquecer, porque estão lindas demais.
    sempre emocionantes Ilzy *-*

    se cuida :*

    ResponderExcluir
  7. serve-se, denso à mesa..
    acho que captura bem algumas características das nossas relações modernas, gostei!

    sugiro depois "um copo de fúria" do Nassar.

    ;)

    ResponderExcluir
  8. o nome certo do livro é "um copo de cólera", do Raduan Nassar.

    bjo!
    ;)

    ResponderExcluir
  9. Amiiga,simplesmente arrasou nesse!!
    Não há uma só palavra pra descrever..Sabe qe sou suua fã!!..Me identifiquei com esse!!

    ResponderExcluir
  10. Incrível e completamente transparente. Dá pra entrar em todos os cantos da casa e vivenciar a cena toda sentada no sofá ao lado dos personagens.
    Eu realmente adorei tudo aqui. Parabéns!

    ResponderExcluir
  11. Estava eu "passeando" pela blogosfera quando me deparo com esse blog e esse conto magnifico.

    Suas palavras são doces e delicadas. Tu descreve a cena com um sentimento incrível. E a historia, é linda.

    Parabéns!

    Beijinho. :*

    ResponderExcluir
  12. Concordo com a L. Ferraz, é mesmo difícil comentar aqui e descrever a sensação ... Parabéns pelo talento que você tem !
    Kiss.

    ResponderExcluir
  13. Lindo conto! Suas palavras me emocionam. =)

    ResponderExcluir