Medo de Olhar

06 agosto 2010 / Tags:



Contrariando todas as pespectivas do leitor, aquele era só mais um dia qualquer que amanhecia. Os primeiros raios de sol iluminaram a cidade, aquecendo-a e mostrando seu poder tácito. Estes mesmo raios invadiam suavemente certo quarto, atraves de uma janela que fora esquecida aberta.

Um par de olhos castanhos fitavam fixamente um ponto qualquer do telhado forrado. Sabe-se lá quantas horas permaneceram naquela mesma posição, ninguém estava contando. Sua fixação era interrompida apenas por leves piscadas lubrificantes e instintivas.

Havia uma luta silenciosa por trás daquele globo ocular. Parte dos guerrilheiros diziam que era hora de erguer-se, de cumprir obrigações; a outra parte - já acometida pelo sono acumulado - pedia clemência e rendição.

A batalha só terminou quando pernas realmente branças e delicadas foram lançadas para fora de uma cama bagunçada. Mais uma vez, era hora de enfrentar os problemas de cabeça ergida - e o mais acordada que conseguisse, afinal, era culpa sua se os próprios pensamentos não lhe deixam dormir.

...


Quando Delilah observou a própria imagem no espelho, percebeu a que estado deplorável aquela situação havia chegado: todo seu longo cabelo castanho-ondulado estava suado e fazia recordar uma ninho de passáros; olheiras escureciam a base dos olhos vazios e sem o brilho que costumavam ter; sua boca estava seca e tinha um gosto de fel horrível; a camisola branca estava grudada ao corpo, dando a sensação costumeira de agônia que apenas roupas suadas tem a proesa de exercer. Ela havia voltado de mais uma guerra contra o sono, pela milesima vez, havia vencido. E estava completamente esgotada.

Por sorte, um banho gelado resolveu parte do problema; uma escova de dentes, outra parte; uma escova de cabelos, outra; e como ninguém fica bem em uniformes escolares, não havia muito o que reclamar. Salvo o sono - é claro.

E foi quando chegou ao recinto escolar - após vince minutos de uma caminhada metódica e lenta -, cumprimentar alguns conhecidos e sentou-se numa das desconfortáveis carteiras de madeira que percebeu como noites sem dormir pesam sobre as palpebras. Mas já era tarde para lamentações, o motivos de todos aquele cansaço breve apareceriam diante dos seus olhos, mesmo que ela não desejasse.

E ela desejou que fosse logo, assim não precisaria mais sentir-se tão fraca - ela odiava com todo o coração aquela condição - e, por isso, levantou a cabeça que estava escondida entre os braços sobre a carteira. Não tardou para acontecer.

Seu coração saltou maldosamente em seu peito, de um jeito muito doloroso e desagradável. Suor brotou levemente por suas mãos; a respiração lhe faltou, tamanha era a pressão sanguinea; ela sentia como se não pudesse mexer um músculo, mas sabia que podia fazer mais que isso; engolio em seco, respirou fundo, procurou não pensar na cor rubra que com certeza estava em seu rosto e levantou-se rumo ao par de olhos que mais temia.

O dono deles lhe esperava recostado num canto mais afastado, que dava de frente a carteira onde a menina costumava sentar-se. Fita-a de modo intenso com aquela olhos castanho-esverdeados iradiando sua cor, iluminados pelos raios que já acometiam o pátio. Observava tão atentamente cada passo da menina, que parecia que esperava que ela caisse no próximo passo. Ou talvez era só a impressão que ela tinha.

Foi quando finalmente ela o alcançou. Fitou mais alguns instantes, deixando seus olhos perderem-se no emaranhado verdes das íris do rapaz. Depois sentiu sua mão sendo tocada. Observou os olhos fecharem-se e sentiu um suave toque dos lábios dele no dorço de sua mão. Uma voz rouca e baixa se pronunciou: - Bom dia. Ela mal conseguia sulgar o ar para responder-lhe. Permaneceu calada.

Ele lhe tomou nos braços, num abraço caloroso e sorriu em seu ouvido de um jeito calmo e sincero. Ela cerrou os braços em volta do pescoço dele, de onde podia sentir o perfume mais divino de todos. Seus corpo ficaram tão pouco tempo colados, mas mesmo assim ela sentiu uma vidração estranha... Como se finalmente tivesse acordado. Alias, como se finalmente estivesse bem.

Depois lhe ele deu um sorriso cheio de mistérios e carinho, e saiu sem mais nada dizer, rumo a sala a qual pertencia. Ela ainda ficou parada alguns instantes no mesmo lugar, no pátio vazio, observando os passos lentos e porem firmes que ele tinha. Observou aquela corpo divino, observou a nuca que mais amava no mundo e principalmente: sentiu que mal consegiua respirar, observando o homem mais bonito que já vira na vida. Depois cruzou os braços firmemente ante o corpo e caminhou de volta a sua sala. Aquilo tudo era muito errado.

Afundou na carteira assim que o professor adentrou a sala. Todos os alunos procuraram seus lugares, só então ela percebeu a figura do melhor amigo ao seu lado, estalando os dedos a frente de seu olhar vazio. - Você está péssima e acho que se não abrir essa mão logo suas unhas gigantes vão cortar sua pele. Ela sabia disso, então apenas relaxou e mostrou-lhe a língua, sorrindo depois. David era a única pessoa do mundo capaz de fazê-la relaxar com uma simples frase. Depois ele lhe deu um beijo no rosto e corou. Só então o professor começou a aula.

Era um martirio tentar concentrar-se na aula, imaginando o que o intervalo lhe esperava. Todo seu corpo tremia de pensar nele novamente lhe abraçando, novamente sorrindo, novamente respirando perto de sua nuca, novamente saindo de perto. Para alguns, aquilo poderia ser simplesmente uma paixão avassaladora, mas creiam-me, não o é. Aliás, até foi, em algum momento do tempo entre o dia em que ela o viu pela primeira vez, os primeiros olhares e a primeira vez que ele a abraçou.

Mas agora ela já não sabia do que se tratava. Era algo que ela desconhecia completamente; de algo mais forte do que ela já julgara poder sentir; algo estranho... que lhe apavorava. A idéia de não o vê-lo lhe deixava completamente desesperada; a idéia de o tê-lo por perto também; e quando olhar dele cravava no seu, e aquele brilho verde refletia, alguma coisa no mais íntimo do ser da menina gritava para que ela corresse, embora soubesse que todo seu corpo estava paralisada.

E ela existia, a partir do momento que o agradava. Todas as suas atitudes eram baseadas naquilo, todos os seus pensamentos buscavam jeitos de trazê-lo para perto, mais perto e mais perto. Desde o dia que o conheceu, foi como se o mundo todo mudasse de centro, e passasse a ter nome próprio, e sobrenome. E ela odiava tudo aquilo! Porque, justamente ela, que odiava agradar os outros, precisava ser acometida por tamanho desterro? Porque ela - e não qualquer outra pessoa no mundo - precisava agradá-lo? Ela não sabia. Só sabia que era assim e ponto final.

•••


NOTA DA AUTORA; À priori, gostaria de agradecer a todos os leitores deste blog. Serio mesmo, quando abri este espaço para colocar meus textos e pensamentos, nunca pensei sequer em divulgá-lo, quanto mais na repercusão que ocorreu. Acho que aí encontra-se o segredo do sucesso: você precisava fazer as coisas naturalmente.

Nunca recebi tanto elogios numa época só - vindo especialmente de pessoas que eu tanto admiro! - e gostaria de agradacer a absolutamente todos eles com todo meu coração. Preciso dedicar um post à isso não? Preciso de muitos post, aliás. Também gostaria de pedir desculpas por esse hiato tão grande entre as postagens. Podem reclamar à vontade, eu mereço. Mas sinceramente? Precisei descansar um pouco antes que minha mente explodisse. E voltei com ótimas histórias, só preciso de tempo para colocá-las em ordem. Prometo que assim que puder, continuarei com ele ativamente, mas com a chegada taciturna do vestibular, isso me deixa cada vez mais sem o tempo necessário. Estou fazendo o que posso.

Segundo, é obvio que eu começaria com um enigma, certo? Adoro deixá-los curiosos, admito mesmo. Que tal um novo conto aos pedaços? Irei finalizar o "Sobre corujas, casarões e coragem" e este o mais breve possível. Digo logo, ele seguirá a tradição dos contos, então não apaixonem-se pelos personagens. E sinceramente? Gostei disso de post pela metade. Sinto-me escrevendo um folhetim para a Revista Niteroi ou novamente em um RPG. Falando nele, talvez eu venha com uma nova idéia em breve, para teste.

Enfim, já me extendi demais nesta nota. Obrigada e continuem por aqui. É sempre um grande prazer escrever para vocês. :*

7 comentários:

  1. já leu WAKE, despertar? Faz lembrar você com seus contos adoráveis.
    continua,continua,continua,continua,continua,continua, continua,

    ResponderExcluir
  2. Não, Leah, mas agora me deu um tanto de curiosidade. Vou pesquisar e obrigada pela dica ;)
    Ah, eu vou continuar, pode deixar e obrigada pelo carinho também *-*

    ResponderExcluir
  3. * é sempre um prazer ler teu blog!

    ResponderExcluir
  4. Oi, muito bom teu blog, agora vou ler ele todos os que eu poder!!

    ResponderExcluir
  5. Nossa, Ilzy! Que sofrimento dessa garota.. é como se ela odiasse estar tão apaixonada, e, estando apaixonada, não conseguisse se livrar do prazer que tinha quando encontrava o cara! Vamos continuar lendo... Bjus

    ResponderExcluir
  6. Gosto muito desses contos em partes. Dá mais emoção ao ler. Aquela ansiedade de saber o que vai acontecer e nesse meio tempo imaginar várias possibilidades de continuação. :D

    ResponderExcluir