Medo de Olhar [2]

07 agosto 2010 / Tags:

PARTE II

Observando o mundo atravez daquele anel de prata em seu dedo anelar, as coisas pareciam tão normais como ela sentia-se no momento. Todos com grandes cabeças - grandes pensamentos! - mas sem muita força para praticar ações - do que adianta ter longas mãos e dedos se elas não servem para tocar, abraçar aqueles que amamos?


Ela já sequer prestava atenção no que o professor dizia no palco dedicado ao seu trabalho. Ah! ela gostaria de poder concentrar-se, mas estava tão próximo do intervalo que era - para ela - humanamente impossível. De suas mãos já brotavam o costumeiro suor, deixando-as brilhantes e escorregadias. Ela resolveu pelo menos olhar para frente, um sinal de respeito ao trabalho do pobre homem - ela não era a única a não prestar atenção.

David sentava na cadeira àfrente da de Delilah e contava alguma piada para a menina sentada ao lado esquerdo, e Lilah geralmente poderia rir, mas quando o tentou, todo seu corpo estava tão rijo que ela cortou-lhe no mesmo instante, apenas deu uma espécie de risada engolida. David notou.

Ele estendeu uma de suas mãos a amiga pelo lado da cadeira. Lilah normalmente a pegaria, mas não o fez. Então ele puxou-lhe a cabeça para o próprio pescoço, fazendo-a curvar-se e segurando-a ali, próximo a própria nuca, por alguns instantes. As mãos do rapaz eram espantosamente quentes e acolhedoras e afagavam o cabelo de Lilah suavemente. Ele já fizera isso milhares de vezes, mas daquela vez pareciam ter um novo significado. Aquelas mãos - ela sabia com certeza! - eram de fato protetoras. E tinha aquele cheiro familiar que vinha do pescoço do rapaz e provavelmente empregenaria-se no seu próprio pescoço - aliás, devo ressaltar: ela odiava o perfume de David.

Lilah conseguiu desvencilhar-se das mãos de David e começou a acariciar-lhe o cabelo, afinal, o professor poderia notar aquela cena estranha. Aquilo sempre lhe acalmava, ela recordou. Os fios emaranhados do cabelo do melhor amigo tinha uma textura macia e quente entre seus dedos pequenos e finos. David cuidava tanto daquele cabelo quanto da irmãzinha que era sua responsabilidade todas as tardes. Lilah sorriu com a lembrança de Melisa apertando-lhe os dedos entre os seus quando os três saíam para o parque e ela via o carro do sorveteiro.

Por quê aquelas lembranças pareciam tão distantes no momento? Porque realmente vinham de um passado um tanto distante. Ela já nem lembrara a última vez que fora a casa do melhor amigo, que por sinal ficava à apenas um quarteirão da sua. Ele também deixara de visitar-lhe, também deixara de ligar por qualquer motivo, ou mesmo ela já nem lembrava da última vez que passaram um intervalo juntos. Aos poucos - doía admitir, mas ela precisava - seu melhor amigo estava lhe esquecendo. Ou lhe deixando de lado.

Um profundo desespero abateu-se dentro da menina. David era uma peça muito importante dentro daquele tabuleiro de xadrez que era sua vida, e ela não pretendia perdê-lo de maneira nenhuma. Mas ela também precisava salvar a si própria, antes de tentar salvá-lo. Era tão doloroso precisar admitir - e deixar! - que ele cada vez estivesse mais longe que ela parou de acariciar-lhe no mesmo instante. Reclinou sua cabeça novamente próximo a nuca do rapaz e sussurrou: - Sabe, eu odeio esse perfume.

Ela sentiu o rapaz sorrir por dentro e depois ele virou tanto o pescoço que seu queixo quase tocou o de Delilah. - Não pedi sua opinião. E ambos sorriram. Aquela era a Delilah que David conhecia, ele pensou, e era dela que ele sentia tanta falta. O sinal tocou. Ambos permaneceram naquela posição por alguns minutos. David sabia que perderia aquele ultimo fio da melhor amiga em alguns instantes, então tratou logo de agir: - Hoje. Na sua casa. Filme. Soava mais como uma ordem, um comunicado. Delilah sorriu e beijou-lhe a face.

...

Tudo que ela tinha naquele momento eram pequenos espasmos de medo, que ela divulgava sendo calafrios. Segundos atrás, David e ela estava numa grande roda de amigos onde o rapaz era o centro das atenções - como de costume. Ele sorria tão resplandecente que Delilah quiz parar o tempo. Ela adorava vê-lo sorrir, sempre adorou. Depois, sentiu seu pulso sendo tocado por alguém. Ela reconheceria aquela força delicada em qualquer lugar.

Simplismente deixou-se ser guiada, procurando não observar o alguém ao lado. As pessoas aglomeravam-se pelos corredores e eles precisavam passar por todos elas para chegarem até embaixo das longas escadaria, onde costumavam ficar todos os dias. Após chegarem-se e sentarem-se na pequena escuridão, ele sorriu encantadoramente deleitado e lhe abraçou. Primeiro o coração de Delilah disparou, depois ela sorriu como tonta e devolveu o abraço. Arrependeu-se no mesmo instante. Apesar do simples ato, algo lhe gritava para sair dali.

Ele tomou-lhe a mão entre a dele e ficou ali, quieto, observando-a. Delilah não o olhava nos olhos - sequer o avisa olhado no rosto, até então - mas havia uma grande angústia presa dentre os olhos do rapaz. Parecia que ele lutava contra alguma coisa dentro de si. Sua voz gutural saiu mais baixa que o normal. - Tem planos para hoje? Ele parecia tão esperançoso que Delilah esqueceu-se completamente do mundo, perdendo-se no olhar esverdeado do rapaz finalmente. Não podia ser verdade, ele estava convidando-a para sair?! Sim, era o que parecia! O rosto da menina ficou completamente corado e seu coração martelou mais alto dentro do seu peito. Quanto tempo ela esperou por aquilo? Já nem sabia, mas lá estava o pedido, pulando do rapaz dele para o olhos dela. - Não, respondeu imediatamente. Ele sorriu triunfante. - Bem... Nem eu. Mas isso pode ser resolvido, certo? Era novamente aquele tom de ordem. Parecia que todos gostavam de utilizá-lo próximo à ela. Só então ela recordou David.

Seu coração deu um salto dentro do peito. Que diabos ela havia feito?! Ela já tinha planos para hoje! E eram planos importantes! Só que, de algum jeito, ela não poderia dizer não ao rapaz. Não naquela ocasião tão única, pelo menos. Ela poderia até imaginar quanto tempo ele precisou simplesmente para recolher coragem para dizer aquela frase.

Abaixou os olhos dos dele e recolheu as próprias mãos para o colo, colocando-as cruzadas ali. - Delilah? o rapaz a chamou, parecia preocupado... - Sim? Ela preferia falar à ter que olhá-lo nos olhos. Ele tocou seu queixo com o indicador e a fez olhá-lo. - Olhe para mim quando eu estiver falando, sim? Ela concordou, simplesmente. Ele sorriu. - Muito bem. Agora me diga... O que houve? Olha... Eu vou entender se você não quizer ir e... O quê?! Ele estava desistindo! Não, ela não podia deixar aquilo acontecer! Não depois de esperar tanto tempo!

- Não, não é isso, Path. Ela teve de apelar. O nome do rapaz, na verdade, é Patrick, mas ele preferia profundamente que o chamassem de Path. Ele costumava dizer que gostava quando os lábios de Delilah falavam aquilo. Parecia único. Então ela apelou. - Eu só... Ah, esqueça. Que horas? Ela sorriu o mais natural que pode. Apesar de nunca conseguir ser natural perto dele. - Às sete.
•••


NOTA DA AUTORA; Então, estão gostando? Espero que sim.


Provavelmente finalizo daqui um ou dois posts.


E provavelmente posto daqui alguns minutos, estou ansiosa.


O conto está ficando enorme, mas isso é o de praxe certo?


Aguardem :***

4 comentários:

  1. Essa menina é uma grande autora sinplismente-a Amoo.....
    Seus conto estão prfeitooo amiga vea Linda

    ResponderExcluir
  2. Que óódio da Lilah, pelo menos até agora! Vê se pode uma coisa dessas gente!

    ResponderExcluir
  3. Estou adorando!! *--* No momento não estou gostando dessa Delilah... =/ rsrs

    ResponderExcluir