Tempestade.

20 maio 2010 / Tags: , ,



Meros Devaneios Tolos de um passado - nem tão - distante.

Janeiro / 2009

Era o fim de mais um verão e apesar do tal nome – e devido às constantes mudanças climáticas daquela região - tudo que se via era a nuvem negra que costumava pairar sobre o céu naquele período. Há cerca de três ou quatro horas, um céu azul celeste, com nuvens que lembravam bolas de algodão abertas, iluminado por um sol forte pairava sobre a cabeça da menina. Era o que si via ao pouco tempo que os olhos agüentavam olhar para cima. Ela simplesmente observava o céu enquanto esperava a maquina de lavar terminar de enxaguar. Não que ela preferisse o sol (há algum tempo preferiria que aquela nuvem pairasse pela eternidade sobre a cidade), mas aquele clima atenuava sua dor e o sol tivera sido um grande companheiro nos últimos dias.

Não fora um verão fácil. Os pais se divorciaram, dissoluções de amizades que não julgava serem necessárias e brigas constantes com o namorado por motivos superficiais. Agora tudo aquilo ficara para trás. Observava agora sua janela. Simplesmente fitava o horizonte negro e pensava sobre tudo que tivera passado. Em sua cabeça uma decepção. Naquele ano, (o tão sonhado ano em que finalmente mudaria de cidade e teria seu estudo que julgava apropriado) a decepção tomou conta do seu ser de lembrar que no dia seguinte as aulas do colégio dos seus sonhos estariam começando e ela estava matriculada no colégio de sempre, aqui mesmo na sua cidade. Ela já havia prometido para simesma que não sofreria mais com aquilo, porém, era inevitável com o vazio que sentia agora.

Não foi há muito tempo – e seus ouvidos ainda latejavam por isso- que ouviu novamente a voz do recém viajado namorado, que conseguia ser incrivelmente ativo com a voz e bater novamente seu recorde de tempo no telefone. Ele havia passado na universidade e estava morando agora às 7h de viajem da cidade natal (mais ou menos 600 km). Por mais que ela fosse forte, não estava sendo agradável aceitar a idéia que ele não estaria mais ao seu lado quando precisasse.

No entanto, ela fazia qualquer coisa para não pensar sobre a situação, já que só doía quando pensava sobre ele (o único problema era que 99,9% daquela cidade miserável estava ligada a eles). Talvez fosse esse o maior motivo de sua vontade de estudar fora (além do seu profundo desejo de conhecimento): livrar-se das lembranças que, agora tinha plena certeza, lhe perseguiriam durante mais um ano. Pelos menos tinha a certeza e a palavra de seus pais que no próximo realizaria seu sonho de estudar num lugar melhor (mesmo que aquilo pouco valer-se levando em consideração todas as promessas quebradas por eles).  A pior parte era lembrar o que estava a sua espera.

Apesar do apego a algumas coisas de lá (como a biblioteca e os bancos de pedra perto da bela paisagem), sempre desprezou seu recinto de estudo. Achava (e ainda acha) as pessoas de lá hipócritas, ignorantes, antiquadas e intrometidas. Ela não se sentia bem estando ao lado daquelas pessoas e sempre sentiu-se fora do ciclo adequado de convivência com aqueles indivíduos. Apesar disso, e infelizmente, era a melhor opção de sua cidade, agora, só lhe cabia aceitar.

Nuvens de chuva se formavam ao norte. Constantes descargas elétricas iluminavam o escuro céu e assustavam as pessoas que passavam na rua, embora o muro alto não a deixasse ver isto. Ela não se importava de maneira alguma com aquilo, na verdade, achava tudo aquilo um espetáculo a parte. Era bom poder distrair-se novamente.

Aquela era uma grande tempestade. O vento cortava forte os céus e os raios eram cada vez maiores, mais luminosos. Mas aquilo não assustava a menina, que permanecia sentada na janela gradeada de seu quarto, estática como uma escultura, observando apenas. Ela simplesmente cravava seus olhos castanhos densos naquela imensidão e sentia como seus problemas não eram nada em compensação ao tamanho do universo. De pensar que era apenas uma partícula insignificante perante todo aquele poder, seus problemas chegavam a ser descartados, se é que já foram contados um dia. Então, após minutos não contados, a tempestade passou. Mesmo todo aquele poder, uma hora ou outra deveria passar. E foi como aconteceu. Foi o que aconteceu com ela.

E foi naquela grande tempestade, que ela encontrou forças para teorizar um dos seus princípios. Não importa o tamanho dos seus problemas, há sempre algo maior e mais luminoso. Não vale a pena lamentar-se. Basta simplesmente paciência para esperar o fim.

Paciência, então.

4 comentários:

  1. muito bom,agora só falta um texto sobre o presente,das novas amizades,das surpresas da vida,do colegio novo.abração do seu amigo vei.

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  2. pode deixar, nando, que eu vou escrever logo logo sobre tudo isso ;)

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  3. Ah, que maaasssaa! Concordo, tudo, por pior ou melhor que seja, vai passar um dia! E as tempestades são exemplos muito fortes!

    Parabéns de novo!

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  4. "E foi naquela grande tempestade, que ela encontrou forças para teorizar um dos seus princípios. Não importa o tamanho dos seus problemas, há sempre algo maior e mais luminoso. Não vale a pena lamentar-se. Basta simplesmente paciência para esperar o fim." E coragem para seguir em frente! ;D Adorei o conto.

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