RPG I - Prisma 2.0

26 maio 2010 / Tags:

O TROVADOR;



Padrões. Era o que, no geral, os meus olhos desejavam. Os mais diversos, distintos e estranhos padrões se formavam como borrões em minha mente, mudando tão rapidamente quando a velocidade da luz no vácuo. E era bem esse o terreno que encontravam em minha mente: a vastidão de um nada. Eles provavelmente não fariam sentido para outro alguém, mas eram meus importantes aliados: o que mais se podem fazer quando se esta presa pagando por um crime?

Eu já nem me importava de esta ali. Sempre fui um ser muito adaptável aos locais mais estranhos possíveis. Até mesmo porque, de onde vim não se podem esperar muitos luxos, mas eu gostava um bocado de desfrutar dos prazeres terrestres. Talvez eu até tivesse um deles aqui, que nunca pude ter: o clima nostálgico me permitia não-pensar. A situação de não-ação era como férias numa praia deserta.

Sempre considerei o panteão um local indesejável. Havia muitas histórias, que eu sinceramente preferia não ouvir, mas que agiam como fantasmas em meus ouvidos, rondando-me como demônios, mas tão desejável quanto anjos; digo que não me decepcionaram, mas deram-me uma nova visão. Como dizem: você não pode tirar conclusões sem conhecer todos os fatos. Acho que conhecer o local é um dos pré-requisitos.

E é esquisito, o panteão; uma espécie de parada entre no tempo e o espaço, como estar preso em outra dimensão. Sempre o mesmo clima, sempre as mesmas coisas. Uma monocromática monotonia, que não era tão monocromática nem tão monótona assim. Confuso não? Duvido que explicações melhorem. Bem, não acho que – por falta de termo melhor – “morando” num local como este, eu precise ser coerente, então me deixe continuar: Tudo ali dependia da sua perspectiva.

Como eu costumo imaginar o copo sempre meio cheio – e não o contrario - minha visão (que também será a sua, caro leitor) era mais ou menos isso: Era tudo dourado e cinza, depende de onde seus olhos estão. Caso estivessem na terra, era dourado. Tudo – desde as folhas de trigo ao chão rachado – era dourado em tons estranhos e místicos, um dourado sem valor. Então, se os meus olhos pousassem na vastidão do céu, você certamente pensaria que precisaria de um guarda chuva, mas vá por mim – eu moro aqui a tempo suficiente para afirmar – nunca nenhuma gotícula de água caíra daquelas nuvens.

Às vezes, quando se olha de relance para certa direção, pode-se ver o Panteão. Suas colunas bonitas e brancas pingam um pouco a paisagem. Aquele pouco branco talvez seja esperança – mesmo que esteja no tom errado. Talvez seja aquele templo de mova os corações nesse lugar. Ali mora o poder, a força, a vitalidade, nossa salvação talvez.

Aqui, moramos nós, os punidos. Anjos e Demônios juntos e em constante guerra. Quando a mim... Bem, não acho que o que eu seja importe mais. Já desistir. Tudo que quero é aproveitar minhas férias nessa dimensão. Se eu fosse humano poderíamos dizer que uma profunda depressão se alastrara sobre mim. Gostaria de dizer que poderia cometer suicídio, me livrar logo deste peso, mas nada morre no panteão.

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Eu estava entretida com um bom padrão que havia encontrado entre as nuvens acinzentadas no céu. Cinza mais claro, cinza mais escuro; escuro de novo, escuro e depois claro. Enquanto eu procurava o começo de um novo ciclo, percebi que algo havia destruído minha distração. Um clarão muito forte – mais forte do que eu jamais vira neste local – e depois um barulho. Xinguei mentalmente, aquele fora dos fortes mesmo. Então observei que não fui a única a notar que aquele não era um trovão comum, mesmo estando onde estávamos. Parecia um aviso.

E realmente o fora. Do chão ergueu-se um ser não conhecido. Então, entre os anjos e demônios de olhar abismado, surgia um ser alado e completamente estranho. Quem era aquele afinal? Ele tinha uma aparência desconhecida. Não parecia com nenhum de nós e nenhum deles. Dei um risinho quando percebi que estava pensando em grupo de novo, mesmo que eu não me achasse pertencente a nenhum dos grupos dominantes do local.

Bem, voltemos ao serzinho que vinhera sabe-se-lá-de-onde visitar os condenados. Eu costumava me prender a detalhes, e naquele ser me prendi ao que ele trazia em mãos: era um instrumento que sinceramente não reconheci. Eu quase pensei que fosse um violão. Mas nem pude tentar decifrar o que era, o voz do ser colocou-se perante a multidão. Digo que tentei compreendê-lo, mas nada vi naquele contexto há não ser o obvio: ele iria nos cantar uma musica. Mas que musica seria esta? Novamente não tive tempo para devaneios.

Eu conhecia aquela musica. Eu a conhecia! Era uma melodia bonita, e aquele ser tinha uma voz de veludo muito confortável. E mesmo em meio a tanta dúvida, eu me prendi em escutá-la. A melodia inundou meus ouvidos e eu quase murmurei com aquele ser esquisito, tentando acompanhar sua voz perfeita, tentando participar daquela situação.

Contudo, o mais estranho não era isso, e sim a letra. Se a melodia inundou meus ouvidos, a letra inundou minha alma. Então recordei minhas origens. Reencontrei quem eu era e senti a esperança, que costumava pertencer ao meu ser, correr livre por meu corpo. Olhei para aquele ser esquisito. Como ele conseguiu me fazer sentir como há tanto tempo não me sentia, apenas com uma canção? Talvez porque escolheu a canção certa. – A canção do Exílio. Murmurei em voz alta, mas estava apenas afirmando para mim mesma que era ela.

Então o ser continuou tocando. Meus pés moviam-se em direção a onde ele ia. Eu não queria perdê-lo de vista. Ele tocava uma boa canção e me enchia de esperança, de bons pensamentos e de motivação. Mesmo com meus erros, eu me sentia celeste ao escutá-la. Quase como se pudesse ser um anjo novamente, mesmo feito aquilo que fiz. Mesmo tendo desejado um demônio, eu queria ser um anjo novamente. Queria voltar para casa, através das montanhas.

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NOTA DA AUTORA: Não é nenhuma novidade para os conhecidos meu terrível vício por RPGs de fórum. Ele me assola há quase cincos anos. Aliás, eu não estou reclamando, que fique bem claro. Devo muito há RPGs; mais precisamente: famílias, um bom vocabulário e a maioria dos meus textos, minha inspirações, meus relatos. Então, nada mais justo - e óbvio - que uma das categorias faça homenagens a estes cinco anos.

EXPLICAÇÕES SOBRE O TEXTO: Esta era o primeiro teste de admissão do RPG Prisma 2.0, versão anjos e demonios. Bem, sobre este personagem, tenho apenas seis posts escritos para o próprio RPG, logo, não se apaixonem e caso aconteça, tratem logo de fazer por esquecê-la. Não durará muito e não tenho mais inspiração para ela.

P.S. Anne é uma das minhas poucas personagens com bom caráter, ou pelo menos onde as qualidades superam os defeitos. E é provavelmente minha terceira melhor personagem.

3 comentários:

  1. desculpa a ignorância, mas tenho que tirar minhas duvidas ne?
    o que é RPG Ilzy? ^^

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  2. Roller Player Game, jogo de rolagem de games... Depende muito de qual você esteja falando, já que são muitos tipos, mas basicamente o que eu jogo é como ter um grande conto, onde muitas pessoas criam seus personagens e interagem entre si e com o narrador, formando juntas uma grande história. É um vicio, pode acreditar. Jogo a mais de cinco anos ;)

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