(parte II da trilogia do silêncio)
Eu queria um cigarro agora.
Não, eu não fumo, mas deu vontade de
ter algo nas mãos que não seja essa dor aguda de beber vinho com gosto de você,
e comer essa comida congelada com gosto de queria-ele-aqui e pior: tomar
sorvete batido com tudo que eu queria te dizer, mas não vou.
E porque nenhuma dessas suas vontades
estranhas é uma vontade de estar comigo?
Tudo bem, entendo que teu ego nunca
gostou muito de mim porque estou sempre procurando meios de devastá-lo, mas
veja bem: o vilão de tudo isso não sou, mas sim esse maldito sentimento que
insiste em não morrer, por mais terra, ódio e orgulho que eu coloque sobre
ele.
Eu só queria que alguma hora, assim sem
saber exatamente porque, você batesse aqui na minha porta e perguntasse se
podia ficar. Não me importava se ficar um ou dois minutos ou entrar de vez na
minha vida, com alma e coração, basta dizer que por alguns segundos estava com
saudades e queria minhas unhas descascadas alinhando os sinais das tuas costas
e te provocando, mesmo sem conseguir te atingir como queria.
Eu estava certa: nunca te quis nos meus
lençóis pra não precisar sentir essa vontade de te ter aqui toda hora. E porque
diabos eu deixei de me proteger de você se desde a primeira vez que os teus
olhos verdes de cobra estavam me levando exatamente para onde eu tinha mais
medo?
Já cansei de te procurar em outros
lugares e já nem me importo com o quão nós dois não daríamos certo: a única
coisa que sinceramente queria agora era que você estivesse aqui. Traz teu
sorriso de covas fundas, teus olhos que mal se abrem (ou isso é a tua alma?) e
vem. Só vem. Sei que (essa e aquelas) minhas palavras fortes demais te dão
medo, mas você sabe que meu abraço é confortável, especialmente entre os teus
braços onde por algum momento eu me sinto passageiramente feliz e
protegida.
O veneno que eu bebi dos teus lábios
tem tentado me matar todos os dias.
Preciso de outra dose, só mais uma, pra
morrer enfim.
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