Minha Doce Perdição

04 fevereiro 2011 / Tags: , ,


Se puder sugerir uma trilha sonora, diria “No It Isn't – Plus 44”

Se aquele desgraçado estava pensando que as coisas iam ficar ok depois dele ter me dado essa mordida ridícula na bochecha, ele estava tão completamente errado que até dava dó. Que diabos eu iria dizer pra minha mãe quando chegasse em casa? Que estava bêbada e provavelmente drogada, no apartamento do meu melhor amigo quando ele – que estava pior que eu – decidiu morder minha bochecha pra arrancar um pedaço ao preço do bel-prazer?

Eu ia matá-lo, só estava esperando-o sair do banheiro.

Puxei a camisa dele para mais perto dos meus joelhos, mas ela logo voltou quase mostrando toda a minha roupa de baixo. Cuspe a palavra “porcaria” como se aquele xingamento escarrado pudesse amenizar todos os meus problemas. Eu sabia que não, mas acreditava que um dia essa teoria fosse me surpreender como sendo a única das verdades.

Xingar sempre ajudava meu ego.

Então me sentei no chão frio e mirei a garrafa de vodka que estava sob o balcão da cozinha. Um riso maldoso cortou minha garganta quando percebi que não tinha força para levantar até lá. Até tentei, mas bater o traseiro no chão doía de verdade, então parei no mesmo instante. Restava-me abraçar os joelhos, sentir a mordida latejando e o chão frio.

Apesar de tudo aquilo, a verdade é que eu gostava de ficar a sós com ele.

Só nós dois, nossas bebidas, nossas músicas estranhas e risadas altas demais. Geralmente pouca roupa, mas sem nunca encostar com malícia um no outro. Ele podia lamber os meus lábios e mesmo assim eu ainda o via do mesmo modo que uma irmã vê um irmão. Talvez, além disso. Ele era tudo que eu tinha e eu temia o dia em que o perderia.

Porque, no fundo, eu sabia que um dia iria perdê-lo.

Mas, enquanto isso, eu me perdia naquela diversão destrutiva e ridícula, simplesmente porque o caminho que parecia ser o da perdição me levava pro único lugar do mundo em que as coisas finalmente pareciam certas: o reflexo do meu rosto embriagada e sorridente nos olhos verdes dele.

A porta do banheiro se abriu atrás de mim e ele saiu de lá. Parecia que tinha vomitado até mesmo o coração – que eu acreditava já ter acontecido há algumas noites atrás – e riu me observando caída. “– Ei franguinho, levanta daí...” eu o ouvir dizer. “– Me deixa quieta, estou bolando jeitos de ti matar...” respondi, ouvindo minha voz esganiçada, rouca e fraca. “– Está tendo boas idéias?” ele perguntou interessado, enquanto se jogava qual um boneco de pano na cama que agora mais parecia um campo de batalha pós-guerra. “– Na verdade, não.” E depois disso, me arrastei reunindo as forças que me restavam, para também me jogar na cama, ao lado dele.

“– Continue tentando, franginho, uma hora os bons planos vêm...”, ele disse isso, colocando o braço debaixo da minha cabeça e com o rosto entre o meu cabelo. Minutos depois ele estava dormindo. Julguei que era melhor ficar ali também. Mordi o pescoço dele com força, me virei pro outro lado e dormi satisfeita.  

...

NOTA DA AUTORA: Deu vontade de escrever algo sujo. Sinto muito se esperavam um pouco mais de leveza. Tento ser leve no próximo.

E, aliás, gostaria de agradecer a todos os lindos comentários que tenho recebido. É uma honra enorme poder despertar emoções nas outras pessoas com essas palavras organizadas de modo estranho, mas com carinho. Espero sempre conseguir porque afinal, eu escrevo para tocar seus corações e aliviar o meu cérebro. Estamos conseguindo?

10 comentários:

  1. Diferente, mas realmente gostei! Ah e o novo layout está muito lindo, com um ar meio romântico e vintage... Gostei.

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  2. Já disse que sou sua fã?
    Diferente do que costumo ler por aqui, mas é bom também.

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  3. uma sujeira incrivelmente bela. não trás descrição de sentimentos, mas me fez pensar. e muito. impecável, como sempre.

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  4. Com certeza suas palavras tocam meu coração. Cada conto de uma maneira diferente, mas todos de forma incrível.

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  5. eu gostei desse texto e não achei sujo apenas diferentes. Eu já li os dois textos acima mas resolvi postar meu comentário só nesse já que estou com muito sono :D Sempre venho aqui e claro seus textos nunca me decepcionam. Parabéns pela aprovação espero conquistar a minha em breve.Continue assim (parece coisa de professor)
    Parabéns.

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  6. Hahaha...algo sujo! Ficou sujo mesmo! kkkkkkkkkkk.. Tenho uma proposta! Confere no Twitter!

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  7. Um conto que fala de forma divertida os atos de vinganças. Pensando, outro dia estava conversando com a mayla que termos algo em comum: sempre transformamos namoros em amizades. E no meu hall de paixões meus namoros evoluem para uma amizade. Existem varios tipos de amigos: os da ficadas, os de conversas profundas, os das aventuras, os que compartilham nossos sonhos, as das paixões que nao dão certos, os que pensam serem nossos pais... fico com a frase de um maluco filosofo alemão: "para um bom casamento é preciso ter o dom para amizade." Vejo que vivemos melhores com amigos do que com as pessoas que temos tesão pra namorar. Namoro envolve detalhes que diferenciam de amizades, o perfeito talvez quem amamos se tornasse nosso melhore amigo. Ao invés disso, queremos que nosso amigo se torne em nosso melhor amor. Enquanto isso, vamos desejando uma amizade parecida ou que se aproxima da que tem com o menino dos olhos verdes. Afinal amigos verdadeiro estao sempre em falta, sereno abraço!

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  8. Eu já acompanho a o blog da ilzy a um bom tempo e de jeito nenhum achei sujo esse modo diferente, pelo contrario achei super interessante, já elogiei ela e suas palavras tanto que nem sei mais o que dizer, fica algo meio clichê, mas é o que sempre extraio daqui, ah se eu pudesse escolher para viver algo escolheria um de seus contos, maravilhosos... cada vez que venho aki lembro-me do seu livro, quero muito e autografado viu. ÁS vezes fico sem comentar pq pode parecer clichê, ai fico sem graça, já pensou vc pensa: "Essa menina só comenta isso..." rs
    Beeijos adoro, amo o seu blog e te adoro muito viu *_*

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  9. Ficou um pouco estranho, mas mesmo assim eu gostei. Não foi um conto tão sujo assim. :D

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