Sobre casarões, corujas e coragem [2]

03 julho 2010 / Tags:


Parte II



Como todas as vezes, ela não sabia ao certo como agir. Aquilo estava longe de ser normal, ela tinha plena consciência do fato, mas também tinha plena certeza da presença dele ali. Do sorriso dele. Do rosto dele tão próximo – e curiosamente tão distante. Da maneira estranha como ele lhe fitava, tão intensa e envergonhada por tê-la atravessado as mãos com seu banho seco de gelo.

Um pio alto de coruja cortou o silêncio incomodo. Aquele coruja tinha mesmo um senso de oportunidade admirável quando queria. Os olhares foram desviados para sua direção, mas não antes de um último cruzar. A coruja fez um vôo raso até o ombro de o único ser vivo naquela local, mas seus olhos não poderiam enganar ninguém. É, Alexia não era a única que sentia uma presença ali. E não era a única que gostava também.

Alexia ainda podia lembrar a primeira vez que entrou aquela casa numa típica noite daquelas que você anda com as pessoas erradas, fazendo coisas erradas simplesmente pela falta do que fazer. Ela ainda podia lembrar com estava alta naquela noite. Nem sabia ao certo o que havia usado, só sabia que estava mal, muito mal. Onde estava mesmo aquele carinha que ela encontrara no bar? Ele não era do tipo que levava donzelas bêbadas em casa, decididamente.

Os ventos fortes da madrugada avisavam que um temporal breve lhes cobriria a noite. Não havia uma casa aquela porcaria de rua! Exceto uma, mas ninguém entra ali. Um minuto de pesamento cortou a noite. Alexia é do tipo que é atraída por coisas que ninguém nunca fez. E suas pernas já estavam tremendo, sua cabeça girando mais do que o normal, estava com tanto sono de repente, o cansaço de andar por tanto lugares... E a porcaria daquela casa pertencia a sua família!

Ela ainda tenta descobrir como conseguiu abrir a porta naquela noite, mas sabe que conseguiu porque um dos flashes de memória pertencia ao interior do local - o saguão. Outro flash era dos seus risos escandalosos subindo as escadas, ela mal conseguia por um pé a frente do outro, quanto mais subir escadas. Risos de escárnio para consigo mesma. Deprimente. Havia um quarto em algum lugar por ali? Ela esperava que sim, porque já estava com os músculos do rosto doendo de tanto bocejar.

Então a chuva começou. Ela olhou os pingos escorrendo furiosos pela janela, fustigando-a com intensidade. Bocejos mais uma vez e sentiu alguns calafrios... Mas não eram de frio, pois quando um dos seus olhos ainda estava bocejando, ela poderia jurar que viu alguém na casa, um senhor, mais precisamente.

Com o susto, seus pés deram um passo vacilante para trás e ela caiu no outros degraus das escadarias. Doeu, podem acreditar, mas ela não estava preocupada com os cortes em sua mão agora ou mesmo com a pancada que levou na cabeça. Estava mais preocupada com a figura de uma bela mulher atrás de si, olhando com intensidade enquanto ela a examinava apavorada por cima do ombro.

Numa torrente, Alexia engatinhou pelas escadarias até conseguir levantar-se e correu o máximo que poderia, contendo os gritos até não poder mais. Sua garganta explodia de terror, enquanto seu cérebro lutava para lembrar como se corre. Então ela estancou. Um menininho de seus seis anos estava brincando... Com a cabeça de outro menino! Outro grito. Lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto quando ela encontrou uma porta qualquer, abriu-a com o máximo de habilidade que ainda tinha e trancou-se lá dentro. Seus joelhos cederam. Ela escorregou aos poucos com as mãos no rosto, desesperada, tremendo, gemendo de dor. E então desmaiou.

Lembrava que acordou com um raio incomodo de sol em seu rosto. Então a chuva já havia dado adeus? O suor grudento escorria por sua tez e suas roupas estavam tão colada no corpo que ela sentiu nojo de si mesma. Havia poeira em todo lugar, mas nela havia uma concentração maior. E assim que ela sentou-se, sua cabeça explodia de dor. Naquele momento, como toda vez que se acorda de ressaca, ela jurou que nunca mais beberia. E toda aquela confusão da noite anterior? Visões era o cúmulo! Hora de Parar, Alex.

Quando abriu os olhos - ah, como se já não tivesse bastado a noite anterior! - havia alguém com os olhos nos seus. Ela piscou mais algumas vezes, porque não podia acreditar. Ainda havia álcool em seu sangue? Contudo, era alguém, como os outros alguéns da noite anterior, mas de quem ela não sentia vontade de correr ou gritar... Ela o observou com os olhos verdes saltados, ele também. Não que ela pudesse ver a cor dos olhos dele. Então, reunindo coragem sabe-lá-de-onde (decididamente ainda havia álcool), ela estendeu a mão. Ele também. E atravessou a própria mão na dela.

Depois disso, ela só sabia que ia a casa todos os dias, sempre às cinco, pois era a hora em que eles estavam lá. Conheceu os outros alguéns e não sentia mais vontade de gritar ou correr. A casa não parecia mais tão suja quando ela via as tentativas da mulher bonita de limpá-la, sem qualquer sucesso, mas sempre com um sorriso. E um menininho de seis anos é lindo ate mesmo brincando com algo tão inusitado e falante. E Well - a coruja oportuna - era sua companhia viva no local e em casa, pois ele sempre lhe visitava. E... Bem, ela ainda tinha medo do Barão e ele tinha ressentimento dela, por terem vendido seu titulo de nobreza, mas mesmo assim sorria quando a via, ele sabia o quão bem ela fazia a alguém que nunca ficara bem pós o que ele havia feito. E, o último e principal motivo: ela ia lá por Giuseppe.

Era exatamente por ele que tudo estava mudando. Depois de conhecê-lo, ela nunca mais bebeu ou usou nada ilícito. Estava lendo mais, estudando mais. Aprendera a ouvir músicas clássicas e a sorrir de um jeito mais delicado, mais gracioso. Ela ainda era desleixada, mas havia mudado internamente.

Ela era do tipo de garota que tinha tudo que queria, exceto amor. E do tipo de pessoa que julgava o amor como tudo. E, se o que lhe faltava era amor, ela o encontrava em cada canto daquele casarão. Todos os dias. Então acrescentem mais um C, de carinho.

•••


NOTA DA AUTORA; não, esse não é o fim ainda, deixei muitas coisas pendentes, mas que me custa deixar a Alex feliz por um tempinho, não é? Deixa o conto assim, por enquanto ;)

2 comentários:

  1. Quero mais ... quero mais ... quero mais ...


    Obrigada yáàh, agradecemos muito!
    Te amo ♥

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