(A)os Pedaços

19 junho 2010 / Tags: ,



Ao contrário do que explica a biologia, as pessoas não são composições únicas de carbono, água, proteínas, derme de proteção e outros elementos mais. Somos todos grandes fragmentos daquilo que buscamos ser. Mas - com o agravante do tempo - acabamos deixando aos poucos que parte daquilo que somos se perca entre as vielas e mazelas da vida.

Cada um é apenas um pedaço daquilo que já foi, daquilo que busca algo que falta, daquilo que completa aquilo que é. Mas especialmente, somos aquilo que deixamos nos outros. Diversos pequenos pontos que formam não só nossa história, mas muitas histórias, todas entrelaçadas na história da vida.

O problema é que somos todos egoístas por natureza e sentimos falta daquilo que deixamos, mesmo que tenham ficado em boas mãos. Somos todos aquilo que ficou no que deixamos para trás. Somos as memórias que alguém guarda na mente. Somos tudo, exceto um todo solido e inviolável.

E aí daquele que julga ser algo imutável. Variamos tanto como quanto podemos imaginar e muito além. Ninguém é o mesmo pedaço o tempo todo. E assim acabamos nos tornando aquilo que somos agora, ou seremos amanhã, ou fomos ontem. Fragmentos daquilo que coletamos; descartes daquilo que não vulgamos necessário; saudades daquilo que precisamos para mantermos completos.

Somos exatamente os pedaços que deixamos pelo mundo. Somos a eterna busca pelo todo individual, que no final de tudo, nunca é suficiente, nunca nos completa. E tal seremos, até que compreendamos que vários pedaços podem formar um todo, basta que aja uma ligação multipolar, multihumana.

Quanto a mim, atualmente sou os pedaços que deixei em tantos lugares que nunca mais poderei coletá-los por completo. Sempre faltará uma parte. Mas, atualmente, falta uma grande parte. Grande parte de mim se foi quando terminei de ler os grandes livros da minha adolescência - quem me conhece sabe os títulos; outra parte maior ainda ficou quando decidir morar longe de mamãe, papai e meu irmão; pequenas partes de mim que aos poucos se perderam com o tempo, amigos de infância, amigos de festas, amigos enfim. Todos eles levaram um pedaço de mim quando partiram. Terei então de coletar novas partes para formar um novo quase-todo. Novos sonhos, novos horizontes, novos gostos, novas amizades – ainda preservando aquelas que ficaram -, novas palavras que façam sentido.

Terei de encontrar aquilo que deixei
E encaixar naquilo que sou,
Para que aquilo que serei seja algo uniforme.
Ou terei de começar novamente,
No eterno ciclo de pedaço e descartes,
Vidas e desgostos,
Achados e perdidos.

2 comentários:

  1. nossa! Amiga, adorei, muito filosófico da sua parte ;D

    Lindo texto! Parabéns pelo que você continua fazendo nesse maravilhoso blog.

    Te amo
    by: sua eterna seguidora ♥

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