O segundo melhor beijo. Duas vezes.

15 maio 2010 / Tags:

2008.

Ao fim dos degraus, os dedos dele se entrelaçaram aos dela. A outra mão segurou-lhe o peso que vinha em suas costas. Cavalheirismo? Isso era novidade para ela. Aliás, tudo era novidade num ramo bem desconhecido para a moça, apesar de tudo que ela já havia passado. Ela nem lembrava a última vez que havia cruzado seus dedos com os de alguém como fazia naquele instante, se é que aquilo já tenha acontecido.

Depois ele sorria de um jeito encantador, tão animado que seus olhos castanhos brilhavam. Ela quase ruborisava - ela não sabia ao certo se tinha essa capacidade - e sorria também. E então os dois colocavam-se a caminhar em meio a multidão, discutindo teorias à dois, como num diálogo isolado. Ele perguntava sobre ela. Ela respondia sobre alguém que hoje não conheci mais. Então os dois sorriam e era simplesmente isso. Todavia, tudo era incrivelmente apreciado por todos os sentidos da menina.

Ele não parecia o mesmo cara de quem ela tanto ouvira falar. Há propósito, ela sabia que ele não era "aquele ele" pintado por todos os seus conhecidos, mesmo aqueles dignos de crédito total. Mesmo antes de o conhecer, aquele rosto lhe agradava. Ela lembrava de quando o olhava de longe... Ele havia notado? Ela esperava profundamente que não. Nunca gostou de ser pega em suas análises. E naquele momento não importava mais. O fato já era fato e aproximava-se do desfecho.

O tempo passava rápido e a distância também. Logo ela chegara no ponto onde os dedos se separariam e ela iria para casa, na esquina de um belo hotel. Como de praxe, ele a abraçaria e lhe daria um beijo no rosto. Ela já estava acostumada com aquela rotina. Mas não foi o que aconteceu.

Daquela vez ele disse que iria com ela pelo seu caminho, mesmo que aquilo alongasse o dele em muitos metros. Ela não achou uma boa idéia, afinal ele ainda era quem o era, mas quem se importa? Esta mais tempo com ele parecia bom, mesmo que não o fosse. Então ela deu de ombros e sorriu. Os dois caminharam pela lateral do hotel.

Há alguma coisa com a variação do tempo e do deslocamento? Os pés pareciam mais lentos a cada passo, até que estavam quase parando. E a calçada nem era tão longe assim, devo ressaltar. Os vidros espelhados da lateral do hotel refletiam a imagem dos dois. Ele não era tão mais alto assim, nem tão bonito assim, nem tinha fama de boa companhia, nada disso, mas parecia perfeito aos olhos dela. E creia-me, não era paixão. Era conhecimento mesmo.

Então ela sentiu um pequeno puxão de realidade. Os dedos dele pareciam puxá-la para mais perto, e mais perto, e mais perto... Ou era simplesmente a sensação de atração que lhe puxava para perto dele? Ela não fazia a menor idéia do que era, só sabia que viu uma menção e atendeu a ela.

Os braços dele fecharam-se na cintura dela e entrelaçaram-na com todo o respeito que dois corpos colados poderiam ter um sobre o outro. Então ele sorriu encantadoramente, antes de colar seus lábios nos dela. E então o mundo surgiu com uma nova coleção de sabores, de sensações e amáveis formas de carinho que se sucederam naqueles simples atos. Os lábios dele eram tão delicados que a faziam sentir-se nas nuvens, nos céus e além de todos esses. Ele não procurava-na com segunda intenções, procurava o gosto dela como quem procura a mais doce felicidade. Ela podia sentir tudo aquilo, mesmo que ele nunca tivesse dito.

Então, depois do que pareceram mais minutos do que o que realmente foi, os corpo se separaram, mas não tanto. Ela sorriu, ainda com os braços dele em volta dela e os dela lançados em volta do pescoço dele, dizendo que precisava ir ou teria problema em casa. Ele assentiu, ainda parecendo estupefado com o acontecido.

Ele ainda lhe beijou uma ou duas vezes antes da despedida. E ela sentiu a mesma sensação em todos eles. Como aquilo era possível? Ela não gostava dele como ele gostava dela e tinha plena consciência disso. Mas, mesmo assim, ele fazia-na sentir-se tão bem com aquele ato tão agradável. De duas uma: ou aqueles lábios foram feitos para os lábios dela, ou aquele rapaz tinha uma verdadeira habilidade. De fato, ela poderia tentar. Ela poderia ignorar tudo o que ele representava para os outros e concentrar-se no que ele era para ela: uma bela rota de fuga para os problemas, uma bela coleção de sensações.

Mas ela não podia. Ela não pôde. Ela não o fez. Ela o deixou. Até hoje ela não sabe o que ele passou quando ela o fez, mas incrivelmente não se arrepende. Até hoje ela guarda a lembrança do segundo melhor beijo de sua vida. Segundo duas vezes: o depois do primeiro, e o segundo beijo que dera na vida.

3 comentários: